diocesano

Hoje foi dia de revisitar um passado, um passado triste. Perdas, as familiares são as que nos causam mais. O dia é sábado de um novembro que se ensaiava quente, a hora 07:00 dormia no meu quarto quando ouvi meu pai sair pela porta da cozinha e ligar o seu fusca setenta e alguma coisa na garagem, era um ritual contumaz, as reuniões do diocesano na igreja São Pedro eram mensais. Moreira era pontual, nem um pouco a mais nem a menos, fazia questão de chegar britanicissimamente no horário. Virei pro lado e continuei o que me restava do sono, no quarto superior a Ana, a menor das duas irmãs, sonhava com as estrelas. Uma hora mais tarde ainda sonolento, acordo com um alvoroço no portão,alguém chama pelo meu nome, que empresto do Moreira desde sempre, saio de casa e já vejo meus vizinhos com o estranho e todos me olham com um ar resignado, eu – senti que algo estava muito errado. A mãe viajava ao Rio de Janeiro em visita ao meu irmão e sua Vivi – recém nascida, a casa incompleta recebeu a noticia do acidente, me vesti, saí correndo ao pronto socorro, meu vizinho em companhia, chegando lá a noticia foi dada pela assistente social: um acidente de trânsito, uma violenta colisão frontal em cima do viaduto da Silva Só. Sem chão, amparado pelo vizinho – que fez o reconhecimento, tratei em dar marcha a notificação dos familiares e providenciar tudo que o momento exigia. Aos poucos as informações sobre o acidente foram chegando, uma invasão de pista, um carro importado, a velocidade alta e o motorista, um notívago, médico e embriagado. Entrei hoje pela primeira vez no hospital Vila Nova que tal médico trabalhava então, aquilo me reacendeu aquela manhã com fogo quente, com raiva e com o pensamento de quão bom seria estar em companhia do seu Moreira, suas risadas, suas tiradas sempre muito sagazes e seu bom humor de arrancar sorrisos e afetos dos que tiveram o privilégio de conhecê-lo. O bom de bola, o assador das multidões, o cara que iniciava o mocotó em casa e levava pra igreja pros 400 pratos servidos na quermesse e adorava dobradinha, o nenê – o caçula de três, bancário, cartesiano e um dos responsáveis pela expansão dos encontros de casais por toda a região metropolitana. A igreja católica perdeu um dos seus dínamos, nós o pai, num acidente estúpido.
25/06/24


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